São Gonçalo

Vulnerabilidade em São Gonçalo

por Leila Soraya Menezes*

Entre os dias 7/03 e 8/04 de 2010, São Gonçalo notificou à Secretaria Nacional da Defesa Civil 15 desastres de grande proporção ocorridos no município: enchentes, enxurradas, inundações graduais e bruscas, danificação e destruição de habitações, escorregamentos ou deslizamentos de terra (SEDEC/MI, 2010).

Os números oficiais registraram, no período, 47.096 desalojados, 8.718 pessoas desabrigadas, 16 mortes. No dia 6/04/2010 foi decretado Estado de Calamidade Pública.

Nos bairros das Palmeiras e Conjunto da Marinha, onde vivem entre 10 e 12 mil pessoas, o prejuízo foi completo, a maioria perdeu tudo que tinha dentro de casa, a inundação em alguns pontos passou de dois metros de altura.

Para não morrerem afogadas, milhares de pessoas procuraram abrigo sobre as lajes e muros das casas. Cerca de três mil tiveram de abandonar suas casas e deixaram o local em canoas ou barcos improvisados. A água levou mais de dez dias para baixar completamente.

Os moradores que permaneceram no local em tendas improvisadas nas lajes das casas, sem terem para onde ir ocupavam-se em retirar os entulhos que restaram dentro de suas casas. Móveis, colchões, roupas e eletrodomésticos foram sendo empilhados na porta das casas à espera de caminhões de coleta. E, com todo o risco que o entulho representava à saúde da população, permaneceram na porta das casas ainda por alguns meses.

A Região Metropolitana do Rio de Janeiro está entre as áreas de mais alto risco aos impactos das mudanças climáticas no Leste brasileiro (IPCC, 2007). As projeções de órgãos de pesquisa indicam que até 2040 teremos no Brasil um aumento das pancadas de chuvas fortes, que causam enchentes, aumento dos raios e do nível do mar (MARENGO et. al, 2007).

A maioria dos municípios da Região Metropolitana, com cerca de 10 milhões de habitantes, o que corresponde a aproximadamente 80% da população do Estado do Rio, compõem por sua vez a Região Hidrográfica da Baía da Guanabara (RHBG), com cerca de 4.198Km².

De acordo com o EIA-RIMA para o Terminal Flexível de Gás Natural Liquefeito na Baía da Guanabara (2007), esta região apresenta alto grau de degradação ambiental, com redução das áreas de manguezais que originalmente ocupavam 260km² da bacia e atualmente correspondem a apenas 82km², o que reduziu a capacidade de reprodução de diversas espécies de vida aquática e intensificou o processo de assoreamento e a progressiva redução de profundidade da Baía.

Nas áreas mais densamente urbanizadas da Baía, os rios são quase todos canalizados e em muitos trechos são cobertos, conduzindo águas de péssima qualidade.

Essa região também apresenta carência habitacional para a população de baixa renda, o que resulta na ocupação espontânea de encostas, margens de rios e áreas inundáveis (SILVEIRA et. al, 2007).

Não é portanto ao acaso que a Região Metropolitana do Rio, composta por 19 municípios, com uma população total de 10,8 milhões de habitantes, cerca de 75,6% da população fluminense, concentra 82,2% dos indivíduos vivendo em extrema pobreza no Estado (ROCHA e ALBUQUERQUE, 2007).

Todo este quadro, por fim, desenha a extrema fragilidade do meio e a extrema vulnerabilidade das comunidades, em particular dos mais pobres, aos impactos das mudanças climáticas, à variabilidade do clima e aos eventos extremos, como os que já se fazem sentir na região.

* Leila Soraya Menezes, psicóloga e socioambientalista, coordenou as ações da CARE Brasil em São Gonçalo